O The Journal of Infectious Diseases (JID), publicado pela Universidade de Oxford, na Inglaterra, tem sido uma das principais plataformas para publicações científicas relacionadas a pesquisas sobre a Covid-19 em todo o mundo, somando mais de 200 artigos sobre esse tema. O periódico reúne pesquisas relacionadas a epidemiologia, imunologia, microbiologia e disciplinas correlatas, e foi nele que, em 2020, houve a publicação de um artigo que leva a assinatura da pesquisadora Vanessa C. S. Vieira, do IFMT Campus Sorriso.
Com pós-doutorado em Genética Molecular e de Microorganismos, a professora, que ministra disciplinas da área de Biologia para os alunos da escola pública sorrisense, está entre os 11 professores do Campus Sorriso que assinam mais de 20 artigos científicos publicados em 2020 - ano marcado pela mudança repentina na rotina das escolas, necessária ao combate à pandemia. Mais de uma dezena desses estudos foi publicada em periódicos de circulação internacional.
O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso (IFMT) Campus Sorriso é conhecido no município por oferecer cursos técnicos integrados ao Ensino Médio com aulas em período integral. O que pouca gente sabe é que essa “escola” é pública, e que, além dos cursos técnicos, ali também há cursos de graduação, de pós-graduação, e o desenvolvimento de pesquisas científicas direcionadas à solução de problemas que afetam a comunidade direta ou indiretamente. E o artigo publicado pela professora Vanessa no jornal de Oxford é um exemplo disso.
A pesquisa em questão (link aqui) retrata a busca de um grupo de cientistas - do qual a prof. Vanessa faz parte - por caminhos para controlar a paracoccidioidomicose (PCM), que é uma micose profunda que atinge muitos trabalhadores rurais. “É uma doença negligenciada e de difícil diagnóstico. A maioria dos casos, cerca de 80% deles, está no Brasil”, explica a professora do IFMT. Durante o estudo, os pesquisadores analisaram os efeitos que uma modificação na proteína paracoccina (PCN), presente no fungo responsável pela doença, causa nas células humanas. Além dessa pesquisa, também em 2020, a professora Vanessa teve outro artigo publicado internacionalmente - este sobre um novo marcador molecular relacionado aos chamados “fungos negros”, publicado no “Fungal Biology”, da Sociedade Micológica Britância (BMS, na sigla em inglês).
Entre artigos publicados, artigos aceitos para publicação, capítulos de livros e trabalhos apresentados em eventos científicos, mais de 30 trabalhos desenvolvidos no IFMT Campus Sorriso foram apresentados ao mundo em 2020. Não somente estudos relacionados ao controle de pragas na agricultura ou ao desempenho de culturas como feijão, amendoim e cana-de-açúcar nas condições de solo e clima locais, mas também sobre cultura contemporânea, física avançada, plantas utilizadas para fins medicinais e, é claro, educação.
A professora Vanessa acredita que é necessário que esse universo da pesquisa, hoje muito restrito ao meio acadêmico, se aproxime mais da população. “E a divulgação científica assume esse papel importante de levar até a sociedade o conhecimento sobre a ciência e o quanto ela está presente no nosso dia a dia”, explica.
O prof. Dr. Renato Andrade Teixeira, coordenador de Pesquisa e Inovação do IFMT Campus Sorriso acrescenta que, “mesmo nas grandes cidades, se falarmos de ‘Qualis’, ‘artigo científico’ ou mesmo ‘experimento’, a maioria [da população] não saberá o que isto significa”. Tornar essa terminologia cada vez mais acessível para o público geral é parte do desafio que a divulgação científica tem pela frente.
Mesmo assim, dificilmente encontraremos uma notícia sobre “Conversão Paramétrica Descendente Estimulada com Feixes de Vórtices Vetoriais”, no jornal de domingo. Mas levar ao conhecimento público que esse tipo de tema está sendo pesquisado no interior do Brasil já é um passo importante para a divulgação científica. O estudo em questão, a propósito, está publicado no “Physical Review Applied”, da Sociedade Americana de Física (APS, na sigla em inglês), e é assinado pelo prof. Marcelo de Arruda, um dos professores de física do IFMT Campus Sorriso.
