Aos 19 anos, Doany Stella Palmeira Martins está passando por um momento muito especial em sua vida: foi aprovada em um dos cursos superiores mais prestigiados do País. Como é de costume, as instituições de ensino superior do Brasil informam, geralmente no começo do semestre, a lista de estudantes aprovados em seus processos seletivos. E foi na lista da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP) que o nome de Doany apareceu, na sexta colocação, em meados de fevereiro, em um processo seletivo que utilizou como critério a nota do Enem.
Ela é egressa do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso (IFMT) Campus Sorriso, escola pública na qual se formou como técnica em Alimentos ao mesmo tempo em que cursou o Ensino Médio, em um curso integrado que teve sua cerimônia de formatura no começo de 2021 – a primeira cerimônia do gênero realizada de forma online devido à pandemia.
Após receber o certificado do Ensino Médio, ela chegou a iniciar um curso superior na área de saúde pública, de forma remota, mas logo percebeu que não se identificava com as possíveis carreiras que poderiam surgir dele. Largou o curso e resolveu focar seus esforços para uma boa nota no Enem e, a partir dela, ingressar no curso de Direito da USP. Questionada sobre um possível “plano B” na escolha da faculdade, respondeu com serenidade: “Eu já sabia que queria entrar lá, então tentei apenas lá”.
Doany conta que ter estudado no Instituto Federal foi importante para manter o foco nos estudos que antecederam a prova. Segundo ela, o IF “ajuda muito na hora de você ter uma rotina disciplinada”, explica, acrescentando que, para se preparar, elaborou um método de estudos adaptado à sua realidade e à sua meta.
De malas prontas para ir a São Paulo, ela se sente preparada para encarar um futuro com muitas possibilidades e, ao mesmo tempo, novos desafios, com a consciência de que cada passo deve ser trilhado a seu tempo. “Por enquanto eu penso em fazer Direito e, quando terminar, penso em fazer um mestrado e um doutorado, provavelmente fora”.
E o que a levou a traçar essa rota? “Acho que uma das coisas que mais contribuíram foram as extensões do IF, tipo iniciação científica que, na época que eu estava estudando, me abria portas. Eu lembrava dessa época e falava: gostei muito de estudar lá, gostei de tudo que fiz, de todas as oportunidades que tive e é isso que eu vou querer para o futuro. Então ele me apresentou o mundo acadêmico”, responde com um sorriso no rosto.
Um exemplo entre muitos
Em meio a aprovações em cursos de graduação, mestrados, processos seletivos de empresas renomadas, concursos públicos, promoções em carreira, publicações de pesquisas, desempenho em competições esportivas e participação em atividades culturais há uma infinidade de conquistas de estudantes e egressos do IFMT que são celebradas quase que diariamente, por técnicos, professores e colegas nos corredores do Instituto Federal, mas que, por fazerem parte do cotidiano da instituição, não viram notícia.
A história da Doany é um mero recorte desse contexto, entre centenas de recortes possíveis, uma vez que, somente no ano em que ela se formou, outros 81 estudantes concluíram o Ensino Médio na unidade. Multiplique esse número pela idade do IFMT (quase 10 anos em Sorriso e mais de um século em Mato Grosso) e tem-se uma noção de quantas páginas seriam necessárias para retratar, em um momento específico, o quadro geral de conquistas individuais de egressos da instituição dentro e fora de Mato Grosso.
Ainda assim, a equipe do IF tenta acompanhar como pode os desdobramentos daquilo que semeia em seus estudantes, e torce junto pelo seu sucesso. E quando vê uma publicação de uma mãe em suas mídias sociais comemorando a notícia da aprovação da filha, como foi o caso da Doany, essa torcida faz uma ola e aplaude de pé, reforçando como o termo ‘comunidade’ tem sua relevância na expressão “comunidade acadêmica”.
Longe de ser um indicador oficial (como era a publicação dos resultados do Enem por escola, interrompido pelo Inep em 2015), para a equipe que atua na escola, esse conjunto de recortes sobre as Doanys, Elizieres, Alexandres, Esthefanys, Brunas, Rodrigos, Daniéis, e Joões que já passaram pelo IF possibilita algum feedback sobre como seu trabalho tem se refletido no acesso de ex-alunos ao Ensino Superior, ao mercado de trabalho e às oportunidades de empreendedorismo nos diferentes cantos do Brasil.
E, ao que tudo indica, o Campus Sorriso - que em 2015 aparecia oficialmente com o segundo melhor resultado entre todas as escolas públicas de Mato Grosso no Enem por escola, e como parte de uma rede que, nesse nicho, contava com 9 das 10 escolas que ocupavam o topo do ranking – continua cultivando bons resultados e comemorando cada um deles.
