Do alto dos seus 55 anos, Mariana Ferreira Leite, mãe de dois filhos e deficiente visual e auditiva, é uma das muitas mulheres participantes de cursos como o de panificação e empreendedorismo ofertados pelo programa Teresa de Benguela do Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT) voltado à geração de renda e autonomia social de mulheres em situação de vulnerabilidade.
Natural de Mimoso, no coração do pantanal, desde pequena a neta de negros e índios bororos alimentou o sonho de poder estudar no Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT), na época, a antiga escola técnica federal.
Para que isso acontecesse precisou esperar por 26 anos, ao longo dos quais ganhou a vida principalmente como babá, casou-se e, separada, criou os filhos Heloísa, 23 e Artur, 18. Artur é egresso do curso técnico em Química do IFMT Bela Vista e foi quem apresentou a ela algumas oportunidades dentro da instituição.
Aos 46 anos descobriu uma doença degenerativa hereditária que a obrigou a se aposentar por invalidez. Foi o início de uma nova fase de luta pela sobrevivência e de busca por novos caminhos. A essa altura, trabalhando informalmente como condutora de turismo e espaços culturais obteve uma formação na área ofertada pelo IFMT Cuiabá Octayde Jorge da Silva em 2024 e segue conduzindo grupos pelo centro histórico da capital.
“Isso tudo foi antes do curso de panificação. No curso a gente aprendeu como confeccionar, embalar e até como posicionar o produto para fazer a propaganda daquilo. Fizemos pão tranças com queijo, presunto, pizza, mini pizza…. e além da gente fazer e levar para a família, os amigos, a gente ainda vende. Isso é maravilhoso.”
Mariana conta que ficou impressionada com a estrutura ofertada pelo IFMT que esteve o tempo todo disponível para as alunas colocarem a mão na massa durante as aulas. “Eu queria ter essa cozinha”, brincou. “Tem todos os equipamentos, batedeiras, todos os tipos de assadeiras, que eu nunca tinha visto. E isso também é muito legal, porque você aprende como fazer e tem o instrumento, tem o material como você quer fazer e como vai fazer. Com o projeto Teresa de Benguela você vai aprender, vai vender, vai conseguir sair da dificuldade”.
Os conhecimentos práticos adquiridos por meio de uma iniciativa pensada para tirar as mulheres do estado de vulnerabilidade e prepará-las para empreender e caminhar com autonomia ganharam contornos ainda mais especiais.
“Esse programa leva no nome o simbolismo da luta e resistência de Teresa. E, para mim, não é porque sou pobre que não posso. Eu posso. Eu consigo. Há muito tempo faço doces de banana, paçoca de pilão e não sabia nada sobre pesagem, divisão e organização dos alimentos…. então tudo o que aprendi durante o curso foi se somando. A gente tem que acreditar que pode fazer, realizar e estar onde quer estar,” afirmou.
Para o IFMT, assim como para Mariana, o Teresa de Benguela é mais do que um projeto de formação profissional. É sobre transformar vidas.
Números – Das 1430 mulheres atendidas até o momento, 931 se autodeclaram pretas e pardas. Desse total, 679 se identificam como pardas e 252 como pretas, conforme autodeclaração feita no ato da matrícula nos cursos ofertados nas cidades de Cuiabá, Várzea Grande, Pontes e Lacerda e Juína.
Texto: Orismeire Zanelato – jornalista IFMT

